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“Você deve ser a mudança que quer ver no mundo”, por Andréa Maurício

O texto, inspirado em um pensamento de Gandhi, “Você deve ser a mudança que quer ver no mundo” é de autoria de Andréa Maurício, convidada especial do Salada Corporativa

Andréa é educadora e sócia  da consultoria Gesthus, empresa especializada em Gestão Humana e Social, que apóia organizações públicas, privadas e do terceiro setor na tratativa de temas relacionados à responsabilidade social e sustentabilidade. Atuou em grandes empresas, nacionais e multinacionais, nos diferentes processos de RH e responsabildiade social.

Quando recebi o link do Salada Corporativa e o convite da Klein para escrever no blog, as idéias borbulharam (só para seguir a linha da publicação…). E em seguida, bateu aquela dúvida: escrever sobre o quê??? Lendo os posts publicados, resolvi, então, escrever sobre o que me fez reavaliar minha carreira: a busca por alinhar pessoas à sustentabilidade.

Poderia começar dizendo que nunca na história desse país se falou tanto sobre responsabilidade social, sustentabilidade, desenvolvimento sustentável… E nunca se usou tanto esses conceitos em vão, sem dar valor ao seu verdadeiro significado, e pior, vulgarizando-o. O que vivemos hoje é uma antítese da sustentabilidade: um mundo socialmente perverso; ambientalmente predatório; e economicamente injusto.

Para praticarmos a real sustentabilidade, basta que promovamos pequenas e constantes mudanças de atitudes…

A Carta da Terra, uma declaração de princípios fundamentais para a construção de uma sociedade global no Século XXI justa, pacífica e sustentável, é, em última instância, uma inspiração para acordarmos todos nós para o sentido de interdependência e de responsabilidade compartilhada de uns para outros e vice-versa.

Muhammad Yunus, Prêmio Nobel da Paz (2006), fundador do Grameen Bank, o banco dos pobres, com profunda simplicidade, acredita que é possível mudar o status quo social; mesmo que seja a partir de uma, duas, três pessoas… A começar por nós mesmos: pela nossa casa, nossa família, nossos colegas, nossa rua, nosso bairro, nossa equipe, nossa empresa…

Quando comecei a atuar com Responsabilidade Social há 10 anos e fechei a parceria da empresa em que atuava com um projeto social, ouvi do presidente uma frase que até hoje me faz pensar: “seu trabalho está apenas começando”…

Atualmente, como consultora para organizações públicas, privadas e do terceiro setor e educadora, procuro ser um agente de mudanças, fazendo as perguntas que façam a organização refletir, colaborando com a mudança que precisamos fazer como indivíduos, como cidadãos, como empregados, como empregadores. Como ensina Oscar Motomura, pergunto: qual a causa, da causa, da causa…? E penso: meu trabalho está apenas começando…

O alinhamento que falo a todos, entre a gestão de pessoas e a sustentabilidade pode ser traduzido em uma frase bem simples: a responsabilidade social começa dentro de casa! Para isso é preciso que se tenha uma visão ampliada do negócio e a capacidade de questionar, contribuir e intervir junto aos gestores, fazendo-os refletir sobre a coerência entre as políticas, os processos, os produtos, o posicionamento da empresa. E penso: tenho muito trabalho pela frente…

  • De que adianta a empresa fazer uma linda campanha publicitária sobre sua preocupação com o meio ambiente e determinar aos motoristas dos seus caminhões de entrega, que carregam sua logomarca de milhões de dólares, que circulem nas ruas da cidade do Rio de Janeiro, nos horários antes das 10h da manhã, ainda que seja proibido por lei?
  • De que adianta a comunicação interna fazer a divulgação do recém apoio da empresa na promoção da qualidade de vida de seus clientes se a prática da empresa é o over-time, com horas extras regulares de seus empregados?
  • De que adianta patrocinar um evento carbon-free, com coleta seletiva, bufê orgânico e não se preocupar com a mão-de-obra contratada por sua cadeia de fornecedores?
  • De que adianta o programa de voluntariado corporativo abraçar a campanha do aleitamento materno, mas as empregadas retornarem ao serviço, sem utilizar a licença que lhes concede este direito?
  • De que adianta adotar o papel reciclado ou certificado e não questionar a impressão diária do “novo” controle de ponto?
  • De que adianta publicar um relatório social e deixar de divulgar as questões que tratam da igualdade, diversidade e equidade internas?

Os resultados de uma recente pesquisa realizada em parceria entre o Massachussets Institute of Technology (MIT) e o Boston Consulting Group (BCG) sobre como as empresas estão adaptando seus negócios para torná-los mais aderentes evidenciam claramente que as relações de trabalho, aquelas que marcam o relacionamento entre empresas e empregados, precisam urgentemente considerar aspectos de sustentabilidade.

Não dá para atrair, reter e motivar o envolvimento dos empregados em ações externas, se a empresa não possui práticas e políticas de RH adequadas e corretas. – Sim, o público interno é um stakeholder importante! É necessário articular as ações internas com as externas… Não há uma “receita de bolo”: basta ter coerência, transparência e simplicidade.

Para concluir, volto à Carta da Terra: “que o nosso tempo seja lembrado pelo despertar de uma nova reverência face à vida, por um compromisso firme de alcançar a sutentabilidade pela rápida luta pela justiça e pela paz e pela alegre celebração da vida”, também nas organizações, local em que passamos boa parte do nosso tempo…

Bem, mesmo que às vezes me chamem de “Madre Tereza”, “Irmã Paula”, “sonhadora”, às vezes “Andréa”, às vezes “Mauricio”… Eu acredito nessa mudança, nessa nova forma de encarar as relações nas organizações, nessa nova perspectiva de mundo! Essa é a minha busca e minha missão, que recomeça a cada novo trabalho, a cada nova turma, com cada pessoa que encontro…

Andréa Maurício

Sócia da consultoria Gesthus Gestão Humana e Social

[email protected]

(21) 3021-2700

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18 Comentários

Adorei o artigo! Também acredito na mudança de visão e de atitude. Ler artigos como esse é um ótimo caminho para inspirar, motivar e desafiar todos aqueles que estão na jornada por um mundo melhor. Abração, Andréa!

Olá, Susana! Obrigada por suas palavras. Sei da sua crença nesse mundo melhor e os resultados do Instituto Bola pra Frente são prova irrefutável de que é possível. Conte sempre comigo! Fraterno abraço, Andréa

Olá Andrea, gostei das reflexões que trouxe de forma consistente e também desafiadora para nós.
Volto a sua frase incial de Gandhi: será que estou sendo a mudan;ca que quero ver no mundo?
Abraço forte.

Joseana

Olá, Jô, querida! Tenho certeza que sim. Você é dessas pessoas que fazem a diferença na vida de quem está por perto e imprime sua marca registrada por onde quer que passe: competência! Fora o fato de ser minha amiga (rs!). Fraterno abraço, Andréa

Déa,
Concordo com você: NOSSO trabalho está apenas começando… A partir dessa análise vemos o valor da semente que plantamos quando achamos que nosso investimento deu poucos frutos.

Compartilhamos o sonho, a utopia, de organizações que valorizem o ser humano e todos os seres vivos antes do retorno financeiro. Há benefícios em ir contra a corrente – como diria Walter Lippman: “Quando todos pensam igual é porque ninguém está pensando.”

Parabéns pelo trabalho!
Bjs, Marina

Olá, Marina! É isso aí: NOSSO trabalho está a penas começando e há muito ainda por vir. Só de poder trocar ideias com pessoas sensíveis e conhecedoras do tema como você, a Alda e o Pedro, penso: “se não houver frutos, valeu a beleza das flores, se não houver flores, valeu a intenção das folhas, se não houver folhas, valeu a intenção da semente…” (dizem que a frase é do Henfil, mas não vou afirmar). Fraterno abraço e sucesso na Pares e no Instituto Pares!

Andréa,
Parabéns pela consistência e coerência da matéria !!
Concordo em gênero, número e grau com as questões abordadas por você.
Também acredito muito nesta necessidade latente de mudança de postura diante de questões simples, mas que muitas vezes são ofuscadas por “clichês organizacionais”, que não nos levam a nada.
Seu trabalho está apenas começando…
Beijos,

Ana Claudia

Olá, Ana! Ler essas palavras, de uma das mais competentes profissionais da área de RH que eu conheço, me calaram fundo no coração… Obrigada! Fraterno abraço, Andréa

Andrea,

Este artigo reforça tudo o que pensamos a seu respeito… E na condição de cliente, podemos dizer com toda segurança, que realmente acredita nessa mudança e nessa nova forma de encarar as relações nas organizações. Se para alguns pode ser considerada “sonhadora,” na nossa visão (Protubo), você é uma pessoa e uma profissional de muito valor. Parabéns pelo artigo! Gostamos bastante! Beijos, Paula Caputo – Protubo

Olá, Paula & Equipe! Obrigada por seus comentários; sou muito feliz por ter como clientes pessoas admiráveis e super profissionais. Contem sempre comigo, como parceira e amiga! Fraterno abraço, Andrea

Andréa, super parabéns!

De fato estamo sendo cada vez menos raros os que se colocam na posição e atitude de apoiar a felicidade humana, o que passa rigorosamente pelo seu texto.

Conte comigo e meus leitores também para conhecerem seu trabalho.

votos de imensas alegrias,
Nei Loja

Olá, Nei! É com imensa alegria que recebo seus comentários. Obrigada pelo apoio e pela divulgação! Quem sabe assim, as “chefs” me convidam para um próximo post (rs!)? Fraterno abraço, Andréa

Andréa

De acordo. Muito bem colocado. O papel (entenda-se como ‘o papel’ qualquer veículo de mídia) aceita tudo. É a coerência entre as ações e as mensagens que diferenciará as organizações responsáveis e sustentáveis do ‘resto’. O longo prazo nos mostrará essa diferença. Parabéns pelo artigo!

Olá, Adriana! Você foi “cirurgicamente” ao ponto e brilhante na sua análise: ou seremos sustentáveis, ou não seremos… Obrigada por compartilhar suas ideias e contribuir com nossas reflexões. Fraterno abraço, Andréa

Muito bom, Andrea! É exatamente sobre esta coerência entre discurso e prática que falamos atualmente na Fábrica Carioca de Catalisadores. Mobilizar as pessoas em nível individual é plantar a semente mais profunda da mudança. Trabalho de formiguinha…Beijos, Patrícia

Olá, Patrícia! Muito bom saber que seu trabalho na FCC continua firme e forte. Parabéns! Acredito que é assim, convocando as vontades, mobilizando as pessoas que verermos a mudança acontecer aonde quer que estejamos. É trabalho de formiguinha, de grilo falante… Sucesso! Forte e fraterno abraço, Andréa

Andréa,
achei muito importante esta abordagem sobre o tema, com a ótica da responsabilidade das organizações para com seus colaboradores. As práticas corporativas, muitas das vezes, são dissonantes do discurso. E não podemos deixar de lembrar que estas práticas são corroboradas por nós, gestores, que temos imensa responsabilidade nesta mudança tão necessária. O “status quo” é uma armadilha terrível e devemos lutar diariamente para não sermos engolidos por ela. Vamos pegar uma carona nesta corrente e mudar este cenário. Um grande beijo. Cláudia

Olá, Cláudia! Obrigada por compartilhar conosco suas excelentes observações e seu ponto de vista sobre o papel dos gestores. Ainda vemos a média gerência, principalmente, esmagada pelas responsabilidades técnicas (que são muitas, é verdade), deixando passar oportunidades de exercitar a essência da liderança com as pessoas. Forte e fraterno abraço, Andréa