Profissionais que largaram as empresas em que trabalhavam para abrir suas próprias consultorias
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Profissionais que Largaram as Empresas em que Trabalhavam para Abrir suas Próprias Consultorias

Claudia Klein colaborou na produção de uma matéria para a revista Você RH. A reportagem aborda profissionais que largaram as empresas em que trabalhavam para abrir suas próprias consultorias. Confira!

 

Formado em engenharia pelo Instituto Tecnológico de Aeronáutica ITA; com MB pela London Business School, Ney Silva, de 47 anos, trilhou por 25 anos uma brilhante carreira no mundo corporativo encabeçando a área de gestão de pessoas de grandes companhias, como Novart is, Gerdau e Camargo, Corrêa.

Seu único trabalho como executivo de recursos humanos foi na Natura, onde respondia como diretor da área.  Porém ele decidiu dar adeus a tudo isso.

Ao lado de mais seis sócios, fundou a Corall, consultoria focada em transformação organizacional e desde então passou a ser dono de sua agenda e a priorizar o que realmente gosta de fazer o tipo de poder que raríssimos profissionais tem quando atendem por um sobrenome corporativo.

“Como número 1 de RH exige grande possibilidade de atuar nos rumos da organização mas ao olhar o dia a dia vê-se o envolvimento em questões de rotina e não de transformação”.diz Silva.

“São atividades ligadas a burocracias internas e externas, conexões políticas e muitas reuniões improdutivas.”

Silva realizou o sonho que muitos executivos de RH nutrem, mas não têm coragem ou não identificam o momento certo de concretizar.

Afinal, saber a hora exata de dar esse passo não costuma ser nada fácil. Há quem se precipite na escolha e acabe procurando o caminho de volta depois. E há quem demore tanto para decidir que nunca acha o dia perfeito para a virada.

A “certeza” para a maioria dos executivos que mudam de lado aparece a partir de algo pontual: trabalhar com amigos de confiança, não suportar a ideia de ser expatriado ou ter alcançado uma rede suficiente de contatos ou guardado uma boa quantia em dinheiro.

Mas dificilmente uma decisão de sucesso é tomada de forma intempestiva.

Ela leva tempo, exige boa dose de reflexão para ponderar o que se perder e o que se ganha no jogo da transição.

 

Antes de pedir demissão da L’Oreal, a carioca Claudia Klein, de 43 anos, investiu em terapia e coaching para entender mais claramente o que queria para sua vida profissional. Até decidir que deixaria o cargo de diretora de recursos humanos na multinacional — e uma carreira de 19 anos.

Passaram-se quatro meses.

“Nunca é uma decisão fácil”, diz ela, hoje uma das sócia da Argumentare.

Uma das dificuldades de Claudia era avaliar se já tinha acumulado capital intelectual e social suficiente para o voo-solo.

“Tenho consciência de que, se eu não tivesse saído aos 40 anos, teria acumulado mais conhecimento tanto em termos de conteúdo quanto de pessoas” diz.

A idade e os anos de experiência são apenas algumas das instâncias a se avaliar.

Há outras, como a financeira, que costumam impedir muita gente de se arriscar como empreendedor. Quem opta pela vida de consultor precisa suportar o período de investimento e prospecção comercial, e também o fluxo irregular de pagamentos algo que nem passa pela cabeça quando se é empregado.

Os bônus de curto e médio prazo, além, claro, do alto salário, são difíceis de reproduzir na carreira-solo.

“É necessário mudar o modelo mental”, diz Claudio Nezlinger; ex-executivo de RH da Microsoft e desde 2010, sócio da consultoria de recursos humanos Eteh.

Isso significa desprogramar o cérebro e o bolso para o quinto dia do mês.

Ainda na esteira financeira, o executivo que abandona a carreira corporativa está abrindo mão também de benesses importantes, como o superplano de saúde para a família inteira sem custo algum ou com custo reduzido, aportes polpudos da empresa na previdência privada, o celular com crédito ilimitado, carro de 140 000 reais na garagem com combustível livre.

Claudia, por exemplo, demorou quase dois anos para ter o equivalente ao salário mensal que recebia na L’Oréal.

 

Sobrenome Corporativo

Outra instância a ser visitada na análise pré-migratória é quanto a falta de um sobrenome corporativo, aquele que dispensa maiores explicações sobre seu negócio — Vai pesar em sua vida.

Como consultor, o profissional passa a depender do próprio sobrenome ou da marca que vai construir do zero para sua consultoria.

Para Nezslinger, a perda não foi aliada traumática, ao contrário, não carregar mais o sobrenome da companhia lhe deu uma leveza “que você nem imagina”, afirma.

“É como se você se apropriasse do que você mesmo construiu ao longo de toda a carreira.

Nezslinger decidiu sair da Microsoft porque existia uma pressão natural da multinacional pela expatriação.

“Como em minha posição esse atributo era importante, e eu não pretendia deixar o país. comecei a construir a ideia de sair”, diz.

Ao desligar-se da multinacional americana, ele trabalhou como voluntário para a Ashoka. organização mundial de empreendedorismo social.

De lá foi convidado a dirigir o CDI Brasil. organização não governamental adiada para a transformação de comunidades pela tecnologia da informação.

Lá ficou quase três anos. Foi então que Nezslinger e três sócios decidiram criar a Eteh, no início de 2010.

“Quando saí da Microsoft. entendia que trabalhar em outra grande empresa seria basicamente mais do mesmo. Quis quebrar o modelo de fluxo lógico”, diz.

A possibilidade de ser expatriado também foi o fator fundamental para que Marcos Guariso, de 49 anos, voltasse a ser consultor.

Guariso já havia experimentado a carreira-solo após trabalhar por mais de uma década em grandes companhias, como o AES Eletropaulo e Chrysler. Mas a mudança teve duração de apenas dois anos e meio.

O excesso de viagens não combinava com a chegada de seus trigêmeos.

Alexandre, Rafael e Julia, hoje com 8 anos. A solução foi voltar à vida corporativa em 2007.

“Fiquei quatro anos na BP [na época Castrol do Brasil] quando surgiu a possibilidade de ser expatriado”, diz ele.

Como não queria deixar o país, Guariso voltou a investir na carreira como consultor. Nessa segunda vez, decidiu investir na criação de uma marca e criou o nome cowork.hr.

“O nome tem vários significados”, explica.

“O principal é a essência de meu trabalho, que tem como objetivo ser uma extensão do RH e desenvolver com as empresas uma parceria ‘ombro a ombro’.”

Ao estabelecer o conceito de parceria, Guarisso tenta evitar outra consequência da vida de consultor: a solidão.

No dia a dia, quem trabalha sozinho não tem com quem compartilhar as pequenas vitórias, as grandes dificuldades ou discutir as nuances de um problema. Para driblar esses momentos solitários, Claudia mantém viva sua rede de contatos profissionais de diferentes formas.

Participa do instituto de empreendedorismo Endeavor e já atuou na Associação Brasileira de Recursos Humanos do Rio de Janeiro.

 

Ego e Vaidade

Se analisar o número de conexões e o fluxo de caixa pode parecer simples — afinal, trata-se de uma avaliação mais quantitativa -, há outros fatores mais complexos a ponderar na decisão de dar adeus ao cargo executivo.

São sentimentos que podem surgir sem que se esteja preparado para isso. “Você precisa fortalecer seu ego para não ficar suscetível à avaliação dos muros-, afirma Claudia. A perplexidade por abrir mão do “melhor emprego do mundo” vai aparecer no semblante de amigos e familiares,

“Você mudou, as pessoas não. Elas o avaliam de acordo com as variáveis de sucesso a que estão acostumadas”. diz Claudia.

“No primeiro ano. eu não tinha escritório. Logo no início estava prospectando sem clientes. As pessoas entendiam que eu não trabalhava.

E não são apenas os outros que podem afetar seu ego. Ao alcançar resultados extraordinários, você pode, no máximo, receber um “obrigado”. Suas ideias estarão sempre ocultas nos projetos que apesar de terem saldo de sua cabeça, serão sempre do cliente.

“O consultor é menos dono dos resultados do que o cliente. Ele vai até mesmo receber menos lucros com o sucesso”, diz Simone Leon, diretora de gestão de carreiras e talentos da Right Management.

Para quem está pensando se abandona ou não a carreira corporativa, Simone sugere algumas iniciativas.

A primeira é fazer um test-drive prestando serviço para alguma grande consultoria.

A experiência vai ajudar o profissional a aumentar o capital intelectual e também a rede de relacionamentos, além de checar se ele tem perfil para não contar com uma equipe à disposição, se tem capacidade para construir novas relações de confiança. companheirismo e empatia a cada novo projeto e habilidade comercial.

Mesmo sem dar uma marca à sua empresa, o consultor freelancer precisa prospectar novos projetos. Afinal. nem sempre o trabalho bate à porta. Outra sugestão de Simone é aprender a contar sua história.

“Construa os cases de sucesso dando detalhes dos resultados em uma abordagem coerente com seus objetivos como consultor”, diz.

Uma forma de divulgar seu conhecimento é publicar artigos, dar palestras ou escrever para um blog, seja próprio. seja de terceiros. Se com toda essa preparação a vida em consultoria não der certo não haverá motivos para desespero.

É normal o consultor ser convidado a virar funcionário na empresa que o contratou.

Voltar é sempre uma opção, mas o caminho inverso vai exigir outra série de ponderações. 

 

– Por Claúdia Klein

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