Helenita de Araujo Fernandes – Mestrado em Psicologia Social, pós-graduação em Gestão de RH e graduação em Psicologia. Atualmente é sócia gerente – Movimento RH, consultora e instrutora no SEBRAE-RJ, professora de cursos de pós graduação e extensão em instituições como FGV e do IBMEC.
Os valores pessoais consistem em metas ou princípios norteadores da vida do indivíduo, que podem servir a interesses individualistas (valores de poder, realização, hedonismo, estimulação e autodeterminação), coletivistas (valores de tradição, conformidade e benevolência) ou mistos (valores de segurança e universalismo). Eles podem ser, ainda, classificados em duas dimensões bipolares e opostas, com a primeira opondo a autotranscendência (universalismo e benevolência) à autopromoção (poder e realização), e a segunda, a conservação (tradição, conformidade e segurança) à abertura à mudança (autodeterminação, estimulação e hedonismo).
De modo semelhante aos indivíduos, as organizações também possuem valores, isto é, princípios ou crenças norteiam a vida da organização e encontram-se a serviço de interesses individuais, coletivos ou mistos. Desse modo, os valores organizacionais podem ser distribuídos em três dimensões bipolares: autonomia versus conservadorismo, hierarquia versus igualitarismo e harmonia versus domínio. Dentre os diferentes construtos que sofrem a influência dos valores, destaca-se o comprometimento organizacional, que se caracteriza como um vínculo psicológico que liga o indivíduo à organização e se desdobra em três componentes: afetivo, calculativo e normativo.
Tanto os valores pessoais quanto os valores organizacionais têm se mostrado importantes preditores do comprometimento organizacional. No entanto, as investigações sobre a influência conjunta dos valores pessoais e dos valores organizacionais sobre as três dimensões do comprometimento ainda são incipientes. Nesse sentido, o presente trabalho objetivou investigar o impacto dos valores pessoais e organizacionais no comprometimento com a organização. A pesquisa contou com a participação de 311 empregados de ambos os sexos, provenientes de diferentes organizações localizadas no Rio de Janeiro. A coleta de dados efetivou-se por meio de instrumentos de auto-relato destinados a avaliar as diversas variáveis compreendidas pelo estudo.
Os resultados das análises das regressões múltiplas lineares hierárquicas evidenciaram que:
(1) as pessoas que endossam em maior grau os valores pessoais de conservação e que percebem sua organização como mais conservadora e com hierarquias mais rigidamente estabelecidas, são as mais propensas a se vincularem afetivamente às mesmas;
(2) as pessoas que percebem que sua organização valoriza mais a autonomia, tendem a apresentar maior comprometimento calculativo;
(3) as pessoas que dão maior valor pessoal à conservação e à autopromoção, tendem a demonstrar maior comprometimento normativo com a organização.
Tais resultados são discutidos à luz dos modelos teóricos que deram suporte à pesquisa e, na conclusão, são discutidas algumas estratégias com base em valores potencialmente capazes de suscitar maior comprometimento dos empregados.