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Problemas com controle financeiro? Veja algumas orientações!

O mundo de facilidade de compras em crédito em que vivemos hoje propicia o endividamento da população. Neste cenário, empresas buscam soluções para darem orientações aos seus funcionários na hora de gastar. Se sua empresa sofre em tentar administrar funcionários endividados, ou, na verdade se você faz parte deste quadro de funcionários, vale a pena conferir a entrevista que fizemos com o Economista e Especialista em Problemas de Desenvolvimento Econômico, Jose Guilherme Pinheiro Côrtes. Confira:

José Guilherme Pinheiro Côrtes

Salada Corporativa: O que as empresas podem fazer para orientar seus funcionários que possuem problemas de controle financeiro?
José Guilherme: Penso que em muitas empresas haja o receio de ver confundido um esforço legítimo de promover a educação em finanças pessoais de seus funcionários com oportunidades para reivindicações salariais. É, contudo, necessário superar esse obstáculo, quando presente. Atividades de educação financeira pessoal poderiam fazer parte de programas mais amplos de educação continuada, tocando em temas que, pelo menos até recentemente, foram ignorados pelos programas de treinamento das empresas, mais voltados para a imediata capacitação funcional. Nesse contexto, deve-se ter em conta que o ser humano é um ser integral e sua educação deve ser encarada como uma necessidade para a vida, não somente para o desempenho em seu cargo atual ou, em poucas empresas, também para ascender ao próximo degrau em sua carreira. Dou um exemplo desses temas ignorados ou relegados a um plano inferior: administração do tempo de trabalho (orientado não somente para maior produtividade, mas também para um maior equilíbrio entre trabalho e outras atividades cotidianas). Educação financeira se encaixaria bem nesse contexto; gestores certamente não apreciam funcionários que, por falta dessa educação, comprometem seu equilíbrio financeiro, endividam-se fortemente e sofrem com todas as más consequências disso. Hoje não faltam estímulos ao endividamento exagerado e custoso, o que arrisca se tornar um problema tão sério quanto o alcoolismo, por exemplo. No Brasil, jovens já se afogam em dívidas, atraídos pelo canto dos crediários, do cartão de crédito e do cheque especial. Por ignorância e baixa noção de responsabilidade, muitos confundem capacidade de endividamento com capacidade de pagamento. Cria-se um círculo vicioso: o crédito é caro porque o risco é elevado, daí as pesadas prestações levam o tomador do crédito a se tornar inadimplente, confirmando a expectativa de risco; é o que se chama de “profecias auto-realizáveis”.

Salada Corporativa: Existe algum programa de coaching voltado para educação financeira nas empresas?
José Guilherme: O Google, até certo ponto, responde por mim: pergunte-lhe por “coaching educação financeira” e você receberá mais de seiscentos links. Isso não esgota o universo de ofertas de coaching em educação financeira pessoal, nem se refere a programas adotados internamente por empresas – sejam tais programas terceirizados ou mantidos internamente pelas empresas. Mas o coaching vem avançando de uns dez anos para cá e acredito que é uma ideia que veio para ficar. Tenho a experiência de quem aplicou um grande número de programas convencionais de treinamento e, acredite ou não, fazia educação para o trabalho usando coaching quarenta anos atrás! Ajudei a formar equipes profissionais de elevado nível no BANDES (Banco de Desenvolvimento do Espírito Santo). Se você me googlear (novo verbo, importantíssimo) encontrará links para trabalhos realizados naquele tempo e cujos autores, muito generosamente, escreveram meu nome como consultor deles. O que eu fazia era trabalho de coaching, então pouco conhecido e valorizado. Demorou, mas a hora chegou.

Salada Corporativa: Em seu livro você fala sobre educação financeira, não é? Como surgiu a ideia de escrever um livro. Fale um pouco sobre ele.
José Guilherme: Um livro apenas é reduzido cumprimento de dever, depois de quase quarenta anos de vida acadêmica, trinta e seis passados no campus da UFRJ na Ilha do Fundão, atuando na educação de engenheiros, em níveis de graduação e pós-graduação. Eu já deveria ter escrito mais dois ou três, espero ainda escrevê-los. Meu objetivo maior é compartilhar com leitores o que aprendi em áreas como Economia da Engenharia, Gestão de Custos e Administração Financeira. Tenho sido um autodidata apoiando-me nos melhores do mundo, meus mestres sem o saberem. Recentemente, recebi um e-mail muito gentil de Gary Cokins, uma das maiores autoridades mundiais em Gestão de Performance (Financeira), por ter a ele me referido, em um grupo de discussão do site Linkedin, como um de meus mentores. Obrigado Gary, devo-lhe muito. O livro “Introdução à Economia da Engenharia”, publicado pela Cengage Learning em 2011, resultou de muitos anos de pesquisa, ensino e aplicação profissional. Meus alunos do Curso de Engenharia Civil, Ênfase Construção Civil, nos primeiros dez anos deste milênio, foram fortes incentivadores. Escrevi um livro que ressalta o papel profissional do engenheiro, não importando sua especialidade, como um gestor de ativos reais (recursos físicos). Perdão, não apenas um gestor, mais provavelmente o mais importante gestor de ativos reais.  Se outras formações acadêmicas melhor instruem o estudante nos mistérios da administração voltada para a criação de valor econômico, a engenharia exige de seus profissionais, com uma perspectiva econômica, a solução de problemas cuja complexidade técnica, na maioria das vezes, dificulta e mesmo impede a atuação daqueles experts em finanças. Por exemplo, tome um economista com MBA em Finanças Corporativas – ou Mestrado e Doutorado idem – e peça-lhe para avaliar a viabilidade financeira de uma refinaria de petróleo; sua formação acadêmica, por mais rigorosa que seja, não o capacita a entender a tecnologia (o que é óbvio!). Acreditem em mim, sou economista! Enfiados nas trincheiras profissionais, aprendemos muito, se quisermos e nos esforçarmos; ganhamos capacidade de comunicação com nossos colegas engenheiros; forjamos parcerias eficazes e duradouras; produzimos resultados vantajosos; aumentamos nossa felicidade com o trabalho assim realizado. Escrevi um livro para engenheiros a quem hoje, na maioria das escolas de engenharia, nega-se a aquisição de conhecimentos nessa área, por estranhas decisões dos gestores dessas instituições, profundamente equivocados em decisões de estruturação curricular. Ampliam o fosso entre a formação acadêmica e as exigências do mercado. Claro que um livro (meu ou de qualquer pessoa) não vai mudar esse quadro, mas fiz pequena parte, que farei crescer nos próximos anos, se Deus quiser. Vou continuar brigando pela educação do ser humano, que estou certo que é e será sempre a principal força impulsora do progresso da sociedade.


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2 Comentários

José Guilherme, uma grande cabeça em cima de um pescoço!
Coisa cada vez mais rara em nosso país!
Parabenizo pelo lançamento do livro e pela inteligente entrevista
Forte Abraço do aprendiz
Roberto Lima

Meu grande amigo de longa data – não podia deixar de parabenizá-lo pelo livro e pela excelente entrevista !!! Um beijo grande. Klicia