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A Arte de Perdoar

Esse é o título da entrevista com o psiquiatra e psicanalista Moises Groisman, feita por Melina Dalboni e publicada hoje no caderno Ela do jornal O Globo. Achei esse tema mais do que pertinente e o conteúdo da entrevista está sensacional, vale muito a pena ler. Aliás, o Ela é sempre leitura obrigatória nas minhas manhãs de sábado.

A conversa aborda a banalização, e suas consequências, de um pedido de desculpas, porque muitas vezes o perdão é dado de forma corriqueira e até excessiva. O ato de perdoar é sempre realizado em relação à uma pessoa que fez algo que nos magoou ou desagradou. Moises Groisnan reforça que os atos são sempre imperdoáveis, as pessoas sim, podem ser desculpadas ou perdoadas em nome do desejo de manutenção da convivência.

Aí é que está, para mim, a força e a beleza do tema. O ato de perdoar exige reflexão e compreensão sobre o quê levou a pessoa a fazer determinado desagrado, a cometer o tal  erro. Por sua vez, o ato de pedir perdão também exige seu ritual, que deve, segundo o psicanalista, ser marcado com um objeto simbólico. Um ponto final simbolizado por uma carta de arrependimento ou um presente, por exemplo.

O psicanalista fala sobre o poder do perdão, o perdão como algo libertador. Lindo o ponto em que menciona que a tentativa de perdoar o ato é errada, não dá para fingir que o problema não aconteceu, não é possível deixá-lo de lado como algo sem importância. Ao tentar fazer isso, ele explica, é como se estivéssemos justificando o  erro acontecido e colaborando para que a pessoa o faça novamente, com você ou com outro indivíduo. Assim, se faz necesário o entendimento do erro, das causas, dos impactos e responsabilidades de cada um.

Moises Groisman nos ensina que guardar uma mágoa pode nos levar a muitas doenças psicossomáticas, a um câncer, a uma crise de hipertensão, por exemplo. O ato de perdoar é, antes de tudo, um ato de respeito à nossa própria vida, saúde e bem-estar. O ato de pedir perdão é um ato humano de humildade e arrependimento.

Exatamente porque o “ato de perdoar” exerce poderoso papel na vida de todas as pessoas impactadas, ele não pode ser feito de forma impensada e gratuita. Exige muita reflexão, conversa, punição, manutenção dessa punição, coragem, ou seja, dá muito trabalho. E é por isso que, segundo o psicanalista, hoje tudo é perdoado muito facilmente, porque as pessoas não querem ter esse trabalho, elas acreditam não ter tempo para realizar todo o ritual que o perdão exige.

O resultado disso é devastador, principalmente para os jovens que precisam, desde muito cedo, compreender o impacto nos outros, das suas escolhas e ações. O perdoar tudo de forma rápida e incondicional é uma arma poderosa que mata a construção de valores importantíssimos para a convivência saudável em sociedade. Muito forte, muito pertinente, mas muito triste, também, quando pensamos que essa tem sido a conduta recorrente de muitos pais e, a expectativa de muitos filhos, serem perdoados, sempre.

Moises Groisman é especialista em terapia de família e na sua entrevista, dá grande ênfase no poder do perdão nas relações familiares. Mas e no mundo corporativo? Será que também não temos muitos gestores perdoando erros gigantes e constantes das pessoas no ambiente de trabalho? Será que em nome da geração rápida de resultados esses gestores não têm se esquivado de reforçar o quê significa resultados com foco em relações sustentáveis? “Errou? Tudo bem! “Foque-se no que tem que ser feito e pronto.” Assim acontece um dia após o outro, um erro após o outro…

Será que os jovens profissionais que estão iniciando sua vida profissional não estão esperando o perdão incondicional em nome de resultados significativos? Será que não é a mesma situação que  acontece nas suas casas?

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Assim, deixo uma reflexão: que tipo de gestores estamos educando?

Um excelente final de semana para você!


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1 Comentário

Pela primeira vez, estou percebendo a responsabilidade do processo do perdão. Adorei essa matéria e vou usá-la como aprendizado e repassá-la á minha família. Eu não tinha noção da importância do ato de perdoar e de como é nocivo quando usado aleatoriamente. Muito obrigada pela luz desse conhecimento.