Dez entre cada dez empresas têm “Foco em Resultados” no seu conjunto de valores. Ainda que a redação se apresente de diferentes formas, existe a clareza de que ali estamos para gerar resultados.
Óbvio que a empresa existe para gerar resultados e usando a lógica podemos concluir que se o resultado de uma empresa é a “soma” dos resultados alcançados por cada um dos seus funcionários, então, esses também existem para gerar resultados. Concordo em gênero, número e grau.
Minha questão aqui é pararmos para avaliar se não há outra forma de dizer a mesma coisa, só que contemplando outros aspectos que devem acompanhar essa geração de resultados. E assim, não estimualrmos indiretamente que os funcionários busquem o alcance de resultados a qualquer preço, muitas vezes com o argumento de que o objetivo final justifica os meios. Para mim:
Alcance de Resultados = “o quê foi feito” + “o como se fez para ter isso feito”
Conheço alguns casos de diretores que foram recompensados exatamente pela sua capacidade de gerar resultados superiores. Ano após ano… Um belo dia a empresa “descobre” que aquele exemplar funcionário que foi promovido por gerar tão significativos resultados adotava formas muito particulares, agora questionáveis, de como fazer as pessoas realizarem as coisas por ali. Quando a empresa finalmente “descobre”, esse profissional vira o alvo da vez e, com certeza, sairá da empresa, de alguma forma, em pouco tempo.
Será mesmo que uma empresa não sabe que isso está acontecendo? Lógico que sabe! O que acontece, então, para um dia a empresa deixar de apoiar esse profissional e passar a dar sinais de que ali ele não tem vida longa? Explico:
Esses profissionais, em nome do alcance de resultados, gritam, humilham, culpam os outros, estipulam prazos exíguos, não se comprometem com apoio na obtenção de recursos, controlam o custo mais do que a própria empresa pensou que era possível, não são sensíveis às questões pessoais, não têm tempo para quem não “entende” e só cobram, mais e mais produtividade.
Essas “melhores práticas” são sempre adotadas para baixo, às vezes para os lados e nunca para cima, prova cabal de que malucos eles não são. Mas, há sempre um funcionário que se posiciona e que relata o que está acontecendo ao RH ou a outro Diretor. Em um primeiro momento a empresa vê o problema como pontual, afinal ele tem uma performance excelente. Mas, à medida que esses profissionais vão conseguindo os resultados e são reconhecidos “aprimoram” suas práticas e, na medida que vão sendo promovidos, mais e mais funcionários passam a ser impactados.
Então, mais e mais funcionários passam a relatar o estrago que esses profissionais estão fazendo, até um dia que, ou o número de reclamações torna-se muito grande e impossível de não ser reconhecido pela empresa e/ou esses profissionais acabam realmente extrapolando e fazendo algo muito sério (por exemplo, agressão física) que vai exigir da empresa uma ação imediata e definitiva.
Pornto! Lá se foi um… mas enquanto isso na sala dos poderes… muitos outros já aprenderam e aplicam o tal padrão de comportamento valorizado e as empresas já estão se empenhando ao máximo para reconhecê-los e promovê-los. Lá vem mais um, mais dois, mais muitos!
O que fazer entao? Proponho uma revisão do conjunto de valores imediatamente! É hora de parar de escrever e reforçar o valor “foco em resultados” e substituí-lo por outro valor que não precisa ostentar a palavra “resultados”. Um valor que leva essa mensagem com a mesma força que lembra a responsabilidade de cada indivíduo de escolher meios e atitudes que respeitem, o outro e todo o ambiente.
À medida que as pessoas forem reconhecidas e promovidas porque genuinamente demonstram esse valor mais amplo, as mudanças no ambiente organizacional vão acontecer. Mas, acredito que também é preciso que mais e mais funcionários relatem quando isso não acontecer.
Eu e minhas sócias já fizemos isso, na nossa empresa, a Argumentare, uma das nossas âncoras é “Empreender através de Relações Sustentáveis”. O “empreender” enfatiza a necessidade de gerar negócios a partir da identificação e implantação das idéias e “através das relações sustentáveis” reforça que esses negócios gerados são sempre acompanhados da conduta ética, do estabelecimento de uma relação de respeito entre o indivíduo e todo o ambiente ao seu redor, interno e externo. Resultados e atitudes, para nós, caminham juntos.
E você, pretende fazer quando?
Parabéns pela matéria Claudia. Concordo com o artigo, porém acrescento que os valores já vem do próprio profissional e não da empresa onde ele trabalha.. Claro que alguns se deixam levar pelo ambiente em que convive, mas se seus valores falam mais alto, com certeza as “regras” do jogo mudam.
Abraços
Cléo Gomes
Isso mesmo Cléo, cada indivíduo carrega seu conjunto de valores e mts vezes escolhem uma posição, um empregador, sem se preocupar se há o mínimo d alinhamento entre os seus valores e os valores organizacionais.
As empresas por sua vez, estão cada vez mais fazendo processos seletivos que focam, tambem, nos valores dos indivíduos. Principalmente nos programas d recrutamento de jovens talentos.
Qto maior for o alinhamento entre os valores da organização e os do indivíduo, maior é a chance d garantir que discurso e pratica caminhem juntos em uma organização.
Obrigada!
Claudia,
Você sabe que sou sua fã, nem seria preciso repetir…
Mas a sua sabedoria e clareza me encantam todas as vezes que leio algum texto seu. Fico realmente triste quando vejo que muitos profissionais abrem mão da integridade pessoal e da ética profissional para obter resultados a “qualquer custo”. Que ganhos empresa e sociedade têm quando as relações de trabalho não são sustentáveis?
Esse tipo de comportamento sempre existiu no mundo corporativo, mas o caminho deveria ser o inverso: melhorar, ao invés de piorar com o passar do tempo. Resta-nos então fazer a nossa parte: sermos pessoas e profissionais melhores a cada dia (nos ideais e nas atitudes), aprendendo com quem sabe e compartilhando nossas experiências…
Bj
Querida Roberta,
Não tenho dúvidas que o mais importante é fazermos, como disse, a nossa parte, através do exemplo mostrarmos ética e profissionalismo na busca dos nossos ideais e nas nossas atitudes diante de todos.
Obrigada por ler meus textos, tento colocar em cada um deles um pouquinho do muito que aprendi com vocês ao longo da minha trajetória de vida.
Volte sempre, tá?
Bj
Oi Claudia, gostei muito do texto. Acabo de ler também os comentários e quero ponderar sobre o comentário da Cleonice. Concordo que muitos profissionais já entrem na empresa trazendo maus hábitos. No entanto temos de considerar o impacto das culturas organizacionais das empresas que acabam “moldando” os profissionais mais jovens. É neste caso que acredito que tenhamos uma enorme responsabilidade e não permitir este “contagio”. Temos de “remar contra a maré” , mesmo sabendo que poderemos não ser bem vistos pela cultura da empresa já estabelecida…… Emprender através de Relações sustentáveis é não só meu lema, mas também meu ensinamento de dia à dia a minha equipe. Abraços,